Total de visualizações de página

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Resumo do livro “A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento” de Edgar Morin

Resumo do livro “A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento” de Edgar Morin

WLADIMIR JANSEN FERREIRA

Resumo Indicativo
Edgar Morin critica a fragmentação do conhecimento e reflete sobre as nefastas conseqüências desta. Defenderá a necessidade de se reformar o pensamento conjuntamente com os sistemas de ensino e as instituições. É necessário que a humanidade forme cidadãos planetários, solidários e éticos, aptos a enfrentar os desafios dos problemas atuais. As pessoas devem possuir um modo de pensar aberto e livre, encorajando o autodidatismo e a autonomia do espírito, para se viver a parte poética das vidas das pessoas. Necessidade de se ultrapassar as fronteiras históricas das disciplinas, buscando uma visão mais ampla e profunda. Para isso defenderá uma compreensão complexa ou holística da realidade (compreender os fenômenos na sua totalidade/globalidade). Enquanto          as disciplinas possuem um saber separado/fragmentado/compartimentado/hiperespecializado, a compreensão complexa compreenderá as realidades e seus problemas de forma polidisciplinares/transversais/multidisciplinares no seu contexto planetário. As disciplinas geram uma visão determinista/mecanicista/quantitativa/formalista, diluindo e ignorando tudo que é subjetivo/afetivo/livre/criador, enfraquecendo a percepção global e diminuindo o senso de responsabilidade e de solidariedade (humana e planetária). A noção de complexo vem de “tecido junto” (interdependente/interativo/inter-retroativo entre as partes e o todo). Superar diferenciação entre “cultura humanista” (leva em conta a inteligência/reflexão/integração pessoal) da “cultura científica” (separa áreas do conhecimento, não reflete sobre o destino humano e futuro da própria ciência). Para superar esta dualidade/bipolaridade, seria necessário revisitar o conhecimento e o pensamento, mudando de paradigma e não somente os reformando. O saber tem de ser “esotérico” (menos exclusivo de especialista, mais acessível e democrático). A reforma do pensamento é uma necessidade democrática fundamental para formar cidadãos capazes de enfrentar os problemas de sua época, permitindo o pleno uso das aptidões mentais e sendo condição obrigatória para sairmos da barbárie. Mais vale uma “cabeça bem-feita” (ligação entre os saberes) do que uma “cabeça bem-cheia” (saber acumulado). A educação deveria resgatar/despertar/estimular a curiosidade na sua prática pedagógica, desenvolvendo o “exercício da dúvida” e a crítica para resolver os problemas fundamentais da condição humana, evitando a acumulação estéril do conhecimento. Teríamos de compreender a relação dialética das partes com o todo, retomar o pensamento sistêmico. O estudo da condição humana não se daria somente pelo estudo das ciências humanas, filosofia e arte, mas pelas “ciências naturais renovadas e reunidas”: a Cosmologia, a Ecologia e as “Ciências da Terra”. Estas complexas organizações disciplinares permitiriam compreender a dupla condição humana (natural e metanatural), não separando o ser humano do Universo e do Planeta Terra, evidenciando a relação indivíduo/espécie/sociedade e compreendendo que somos seres simultaneamente cósmicos/físicos/biológicos/culturais/cerebrais/espirituais. As incertezas acabam com as certezas absolutas e precisam ser preservadas, mas enfrentadas globalmente. A educação deveria estar voltada para a autoformação pessoal e para a cidadania, ensinando a assumir a condição humana e a ensinar a viver. Também ajudará a pensar na organização dos “Três graus de ensino”. As cinco finalidades educativas são: “cabeça bem-feita”, “ensino da condição humana”, “aprendizagem a viver”, “aprendizagem da incerteza” e “educação cidadã”. É necessário que se transponha conhecimentos e esquemas cognitivos de uma disciplina para outra, em uma inter-poli-transdisciplinaridade que permite articular conhecimentos além da disciplina.
PALAVRAS-CHAVE: EDUCAÇÃO; COMPLEXIDADE; CONHECIMENTO; INSTITUIÇÕES; PENSAMENTO.

Edgar Morin no livro “A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento”, critica a fragmentação do conhecimento e reflete sobre as nefastas conseqüências desta. Defenderá a necessidade de se reformar o pensamento conjuntamente com os sistemas de ensino e as instituições. É necessário que a humanidade forme cidadãos planetários, solidários e éticos, aptos a enfrentar os desafios dos problemas atuais. Quer que as pessoas possuam um modo de pensar aberto e livre, encorajando o autodidatismo e a autonomia do espírito, para se viver a parte poética das vidas das pessoas.
Haveria uma necessidade de se ultrapassar as fronteiras históricas das disciplinas, buscando uma visão mais ampla e profunda. Para isso defenderá uma compreensão complexa ou holística da realidade, ou seja, compreender os fenômenos na sua totalidade ou globalidade. Enquanto            as disciplinas possuem um saber separado/fragmentado/compartimentado/hiperespecializado, a compreensão complexa compreenderá as realidades e seus problemas de forma polidisciplinares/transversais/multidisciplinares, no seu contexto planetário. A noção de complexo vem de “tecido junto”, interdependente, interativo, inter-retroativo entre as partes e o todo.
A organização disciplinar das ciências só teria a vantagem na divisão do trabalho, mas esta superespecializa, gerando confinamento e despedaçaria o saber, levando à ignorância e à uma “cegueira”. Isto pode ser visto na passagem de MORIN (p.15) à seguir:
Assim, os desenvolvimentos disciplinares das ciências não só
trouxeram as vantagens da divisão do trabalho, mas também os
inconvenientes da superespecialização, do confinamento e do
despedaçamento do saber. Não só produziram o conhecimento e a elucidação, mas também a ignorância e a cegueira.

Esta organização disciplinar influenciaria negativamente as escolas, que isolam o objeto do conhecimento, separam disciplinas ao invés de reconhecer correlações, elimina tudo que causaria desordem ou contradições nos entendimentos e dissociam problemas em vez de reunir/integrar. As disciplinas geram uma visão determinista/mecanicista/quantitativa/formalista, diluindo e ignorando tudo que é subjetivo/afetivo/livre/criador, enfraquecendo a percepção global e diminuindo o senso de responsabilidade e de solidariedade (humana e planetária). O “reino dos especialistas” seria o “reino das idéias-ocas geniais”, dando vários exemplos, podendo destacar a economia, que é uma ciência avançada matematicamente, só que atrasada humanisticamente.
Portanto, há uma diferenciação entre “cultura humanista” (leva em conta a inteligência, reflexão, integração pessoal e não sendo somente estético) da “cultura científica” (apesar de gerar descobertas e teorias geniais, separa áreas do conhecimento, não reflete sobre o destino humano e o futuro da própria ciência). Para superar esta dualidade ou bipolaridade, seria necessário revisitar o conhecimento e o pensamento, mudando de paradigma e não somente os reformando. O saber tem de ser “esotérico”, ou seja, menos exclusivo de especialista e mais acessível à todos, democratizando este. A reforma do pensamento e o pleno emprego da inteligência seriam frutos da interligação destas culturas dissociadas.
Valendo-se da máxima do pensamento clássico de Montaigne, MORIN (p.21) afirma que vale mais uma “cabeça bem-feita” do que uma “cabeça bem-cheia”:
A PRIMEIRA FINALIDADE do ensino foi formulada por Montaigne: mais vale uma cabeça bem-feita que bem cheia. O significado de “uma cabeça bem cheia” é óbvio: é uma cabeça onde o saber é acumulado, empilhado, e não dispõe de um princípio de seleção e organização que lhe dê sentido. “Uma cabeça bem-feita” significa que, em vez de acumular o saber, é mais importante dispor ao mesmo tempo de:
– uma aptidão geral para colocar e tratar os problemas;
– princípios organizadores que permitam ligar os saberes e lhes dar sentido

Isto significa que uma “cabeça bem-cheia” seriam um com saber acumulado, já na “cabeça bem-feita” há uma ligação entre os saberes. A educação deveria resgatar/despertar/estimular a curiosidade na sua prática pedagógica, desenvolvendo o “exercício da dúvida” e da crítica para resolver os problemas fundamentais da condição humana, evitando a acumulação estéril do conhecimento.
O ensino infelizmente separaria e não ligaria, analisaria e não sintetiza. Para que a educação ocorra plena, é necessário que o conhecimento una os objetos entre si, tendo uma necessidade cognitiva de inserir um conhecimento particular em seu contexto e situá-lo em seu conjunto.
O século XX a partir da década de 1960 estaria passando por uma “Revolução científica”, que estaria retomando o positivo pensamento sistêmico, gerando desdobramentos que interligaria conhecimentos, contextualizaria e globalizaria os saberes, fazendo com que as pessoas se pensem como parte de um sistema complexo, de um sistema planetário. O filosofo Blaise Pascal já falava que temos de compreender a relação dialética das partes com o todo, sendo que todas as coisas são “ajudadas e ajudantes, causadas e causadoras”, havendo uma unidade humana na diversidade das individualidades.
O ensino pode promover a convergência das ciências naturais, das ciências humanas, da cultura das humanidades e da Filosofia para o estudo da condição humana. O estudo da condição humana não se daria somente pelo estudo das ciências humanas, pela filosofia e pela arte, mas pelas “ciências naturais renovadas e reunidas”, no conhecimento transdisciplinar e do pensamento complexo. Estas novas ciências seriam: a Cosmologia (pensaria o Universo), a Ecologia (pensaria a natureza e o ecossistema) e as “Ciências da Terra” (pensaria o planeta Terra).
Estas complexas organizações disciplinares permitiriam compreender a dupla condição humana (natural e metanatural), não separando o ser humano do Universo e do Planeta Terra, evidenciando a relação indivíduo/espécie/sociedade e compreendendo que somos seres simultaneamente cósmicos/físicos/biológicos/culturais/cerebrais/espirituais.
Baseado no pensamento do filosofo Émile Durkheim, MORIN (p.47) afirma que a educação deveria criar no aluno um estado interior e profundo, gerando uma “polaridade de espírito” que o oriente em um sentido definido, não apenas na infância, mas em toda a vida. A educação deve transformar as informações em conhecimento e este em sapiência.
MORIN (p.59) diz que “Assim, quando conservamos e descobrimos novos arquipélagos de certezas, devemos saber que navegamos em um oceano de incertezas”. Isto significa que uma das maiores contribuições do conhecimento do século XX foi o conhecimento dos limites do conhecimento, estando expresso nesta outra passagem de MORIN (p.97):
É Copérnico quem retira do homem o privilégio de ser o centro do Universo. É Darwin quem o torna descendente do antropóide, e não criatura à imagem de seu Criador. É Freud quem dessacraliza o espírito humano, e, finalmente, é Hubble quem nos exila nas periferias mais afastadas do cosmo.

As incertezas acabam com as certezas absolutas e precisam ser preservadas, mas enfrentadas globalmente. É importante diferenciá-las em “incertezas cognitivas” e “incertezas históricas”. Existiriam também três princípios da “incerteza no conhecimento/cognitiva”: o cerebral (sendo um reflexo do real, tradução e construção, com risco de erro), o físico (interpretação está ligado ao conhecimento dos fatos) e o epistemológico (decorrente da crise dos fundamentos da certeza). Quanto à “incerteza histórica”, já estaríamos na aventura desconhecida, aguardando o inesperado e incerto. A questão da estratégia se mostra primordial, que se daria pela incerteza integrada à fé e à esperança, não pela falsa certeza.
A educação deveria estar voltada para a autoformação pessoal e para a cidadania, ensinando a assumir a condição humana, a ensinar a viver. Cidadania seria definida em uma democracia por sua solidariedade e responsabilidade em relação à sua pátria.
Neste momento, reflete-se sobre o Estado-nação, que é um “aparelho” com vários outros “aparelhos” (forças armadas, justiça, polícia, igreja, etc), sendo assim complexo por possuir diversas facetas (territorial/político/econômico/cultural/místico/religioso). Pensa-se em nação como uma sociedade em suas relações/interesses/competições/rivalidades/ambições/conflitos sociais e políticos, sendo uma comunidade de identidades/atitudes/reações ante o estrangeiro ou o inimigo. Comunidade teria um caráter cultural e histórico. Em uma relação dialética e antagônica, Nação seria maternal/feminina/momentos comunitários e o Estado seria paternal/masculino/autoridade absoluta.
Há uma correlação no desenvolvimento da consciência de humanidade e a consciência de nossa pátria-terrena, sendo a segunda necessária por ser uma concepção mais vasta de pátria, mais aberta e geradora de consciências planetárias. A educação deve permitir às pessoas para a autoformação da cidadania plena (quando as pessoas se sentem solidárias e responsáveis) e do significado de nacionalidade, ampliando as identidades nacionais para as identidades continentais e planetárias.
Edgar Morin também ajudará a pensar na organização dos “Três graus de ensino”. Em relação ao “ensino primário”, seria necessário fazer interrogações ao invés da destruição da curiosidade infantil, pois assim seria possível descobrir a dupla natureza humana (biológica e cultural). A relação de causa-efeito e entre a parte-todo seria valorizado nesta fase, onde a indagação sobre o ser humano deveria ser interligada à indagação sobre o mundo nas suas dimensões histórica/psicológica/social/física/biológica. As disciplinas deverão estar reunidas e ramificadas sem haver distinção, auxiliando no aprender a conhecer (a separar e unir, analisar e sintetizar ao mesmo tempo). Também se destaca a contextualização, a aprendizagem pela via externa (conhecimento das mídias) e interna (auto-analise e auto-critica). Neste grau de ensino também se ensinaria a língua, ortografia, historia e calculo.
No tocante ao “ensino secundário”, neste haveria o aprendizado da “verdadeira cultura” (que unifica as culturas das humanidades com a científica). Os programas deveriam ser substituídos por guias de orientação que situam as disciplinas nos novos contextos (Universo, Terra, vida e humano). Valorizaria também a matemática, a filosofia e o mundo/cultura dos adolescentes.
Já em relação ao “ensino universitário”, a universidade tem uma característica transecular e transnacional, devendo manter-se conservadora (no sentido de preservar o passado para o futuro e não no sentido dogmático/rígido), mas sendo também regeneradora e geradora de patrimônio cultural. O dialogo das culturas das humanidades e cientificas são primordiais, fornecendo um ensino metaprofissional e metatécnico (modernizando a cultura e “culturalizando” a modernidade). Há de se transcender o fato de ser uma máquina de produção e consumo para uma valorização da cultura humanista. Para que se reforme o pensamento, é necessário que se reforme a Universidade, com uma reorganização geral das faculdades e departamentos para ciências multidisciplinares em torno de núcleo organizador sistêmico/complexo/transdisciplinar (Ecologia, Ciências da Terra e Cosmologia). Cerca de 10% de todas as graduações deveriam ser voltados para um ensino comum (variando do matemático à ética e política, etc).
É necessário que se substitua um pensamento que isola/separa/disjuntos/redutor para um pensamento que distingue/une/complexo, ou seja, que liga e enfrenta a incerteza e favorece o desenvolvimento do senso de responsabilidade e cidadania. A reforma do pensamento tem conseqüências existenciais, éticas e cívicas, sendo uma necessidade democrática fundamental para formar cidadãos capazes de enfrentar os problemas de sua época, permitindo o pleno uso das aptidões mentais e sendo condição obrigatória para sairmos da barbárie.
Por fim, os problemas da educação têm de ser resolvidos cada vez menos de maneira quantitativa e mais de maneira orgânica para: reformar mentes e instituições para responder aos desafios complexos que os problemas impõem ao conhecimento; fornecer cultura para distinguir/contextualizar/globalizar problemas multidimensionais/globais/fundamentais; proporcionar mentes que enfrentam incertezas do Universo/vida/humanidade; apostar em um mundo melhor; compreender o humano entre próximos e distantes; ensinar cidadania terrena/unidade antropológica/diversidades individuais e culturais. Portanto, as cinco finalidades educativas (que estão interligadas) são: a “cabeça bem-feita” (aptidão para organizar o conhecimento), “ensino da condição humana”, a “aprendizagem a viver”, a “aprendizagem da incerteza” e a “educação cidadã”.
É necessário que se transponha conhecimentos e esquemas cognitivos de uma disciplina para outra, em uma inter-poli-transdisciplinaridade, que permite articular conhecimentos além da disciplina. É necessário metadisciplinar, ultrapassando fronteiras e conservando ao mesmo tempo, ou seja, modificando, mas não acabando com tudo já produzindo, sendo aberta e fechada.


Nenhum comentário:

Postar um comentário