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quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Reflexões acerca da greve dos professores da rede estadual de São Paulo em 2015

Reflexões acerca da greve dos professores da rede estadual de São Paulo em 2015

Wladimir Jansen Ferreira (EE Nigro Gava)

No primeiro semestre de 2015 ocorreu a maior greve derrotada da história dos professores da rede estadual de São Paulo. Apesar de ser a maior greve da história em dias (92), esta foi derrotada politicamente e economicamente, não tendo nada de vitorioso.
Não havia uma mobilização da categoria para a decretação da greve, apesar ser vontade da maioria das forças políticas presentes na esvaziada Assembléia de 13/03 que decretou o seu início. A categoria estava desmobilizada pelas constantes derrotas das greves dos últimos anos (sendo que a greve anterior de 2013 havia acabado melancolicamente com a manipulação do resultado da Assembléia pela Bebel/Articulação do PT). A APEOESP estava desmoralizada e impotente pela ação desmobilizadora da burocracia no interior do sindicato e ressentida pelas manobras burocráticas ocorridas no último Congresso em 2014 (que levou à uma retirada das oposições deste).
Foi decretado a greve no dia 13/03/2015 com a menor presença de professores em uma Assembléia da categoria (menos de 4 mil professores), demonstrando que a mobilização era muito pequena. Para piorar, a “Articulação Sindical” manipulou esta assembléia para a participação no ato “pró-governo Dilma” que aconteceria logo em seguida (este que tentaria se opor ao primeiro ato da direitas que se realizaria no dia 15/03/2015). Acertadamente alguns professores se retiraram do ato pró-governo Dilma logo ao fim da Assembléia da categoria. Apesar desta divisão, houve uma confusão na categoria, pois esta entendeu que todo o movimento era de apoio ao governo Dilma e não pelas reivindicações dos professores. Custou muito trabalho dos “Comandos de Greve” para que esta confusão fosse esclarecida.
Discordo das posições que defendiam que a greve poderia ter começado somente no dia 30/03, quando ocorreria uma negociação com o governo Alckmin. Entendo que uma greve possa ser construída de duas formas: “chamada pela direção” ou “nascida espontaneamente pela base”. Pelo sindicato ser dirigido estadualmente pela “Articulação Sindical” (que comanda desorganizadamente-despolitizadamente a APEOESP) e pela crise do sindicato, foi acertado que se decretasse a greve no dia 136/03/2015 para se “testar a política”. Correríamos o risco da greve nunca ser decretada, se esperássemos a mobilização da base, ainda mais em um cenário de desmobilização da luta e do sindicato.
A greve falhou por vários motivos, começando que não era clara a ordem de prioridades. A pauta estava extensa e que a reivindicação de 75% de aumento salarial era maior que as pernas. Talvez o ideal fosse defender a luta pela reposição de 37% de perdas do governo Alckmin.
Graças à atuação dos “Comandos de Greve”, esta se fortaleceu no final do mês de Março e se manteve durante boa parte do mês de Abril, mas não chegou à uma adesão de mais de 40%. Nos dias de Assembléia estadual, esta mobilização aumentava para 60% e 70%, mas depois retrocedia aos níveis iniciais. As Assembléias Regionais eram muito esvaziadas (com exceção de algumas), não chegando à uma participação de 5% à  10% de filiados regionais.
Aos poucos a greve foi enfraquecendo e deveríamos ter defendido o recuo da greve no começo de Maio. Infelizmente se fez mais forte a pressão dos ultra-esquerdistas/horizontalistas e da “Articulação Sindical” que defenderam a continuidade da greve. A defesa do recuo da greve começou a ser defendida somente na primeira semana de Junho.
O fracasso da greve  aumentou a desfiliação no sindicato e o descrédito da categoria na luta sindical. Os grupos horizontalistas e ultra-esquerdistas se fortaleceram, mas é necessário criticar suas políticas e seus métodos. Estes fizeram um jogo-duplo, mais preocupados em defender a “Articulação Sindical e criticar a Oposição Alternativa”, do que criticar o governo Alckmin.
Infelizmente a “Unidade na Ação” com a “Articulação Sindical” significou uma capitulação à política da “burocracia sindical”. O correto seria denunciar constantemente a “burocracia sindical” nas Assembléias e nos “Comandos de Greve”, mostrando que não tínhamos confiança nenhuma na Bebel e que defenderíamos “rebeliões de base” nas primeiras traições (que ocorreram o tempo todo no período de greve), “passando por cima” das direções burocráticas.
Também deveria ser necessário se defender a criação de “Comandos de Base” (ou um “Comando Geral de Mobilização”) que se oporia ao burocrático CR, aonde teríamos a eleição de militantes da base que decidiria os rumos e a organização da greve. Os integrantes deste Comando deveriam ser eleitos pelas subsedes, aonde a vanguarda tem um maior poder de decisão. Isto poderia mudar o rumo de nossa Assembléia, superando – inclusive – o “desvio mandelista” de nossa greve (onde a política seria decidida não mais pela vanguarda, mas pelas massas).
Outro motivo de nossa greve fracassar foi a não construção de uma “unificação das lutas”, fato que também contribuiu ao esgotamento e isolamento de nossa greve. Foi correta a iniciativa de exigência que a CNTE unificasse nacionalmente as lutas dos “trabalhadores da educação e dos estudantes”. Entretanto, não foi construída uma unificação com os “servidores públicos e das estatais do estado de São Paulo” (garis, Sabesp, Metrô, funcionários de universidades, etc) que estavam em ampla mobilização. Também não foi construída uma unidade com as “entidades do magistério” (CPP, UDEMO, APASE e AFUSE), que, por mais que estivessem colaborando com Alckmin na “farsa da negociação”, deveríamos ter mobilizado suas bases para a construção de uma greve unificada. Deveríamos ter construído calendários unificados para buscar furar o bloqueio da unificação de lutas pelas direções burocráticas.
Apesar dos erros, não podemos nos deixar esmorecer e nem nos achar desmoralizados. Temos que confiar na mobilização e na atuação na base para continuar a luta pelas reivindicações da categoria. Bons ventos sopraram do movimento contra a reorganização da rede estadual de São Paulo e reacendeu a chama da esperança.

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