Total de visualizações de página

domingo, 22 de novembro de 2015

REFLEXÕES LIVRO "A VIDA dos ANIMAIS" (Coetze)

repasso reflexão-trabalho que fiz em 2005 na época estava na graduação do curso de geografia.
Feito conjuntamente com Marcos Roberto Soares Monteiro e Michele Tomeo Pacheco.

__
REFLEXÕES LIVRO "A VIDA dos ANIMAIS" (Coetze)

O presente trabalho destina-se a fazer alguns apontamentos sobre a obra A Vida dos Animais, com a finalidade de refletir, sobretudo a respeito do consumo de animais na sociedade contemporânea, que por sua vez é criticado pela vegetariana Elizabeth Costello de forma transdiciplinar no evento realizado no Appleton College, cujo objetivo principal era elucubrar não apenas sobre o consumo de animais, mas também a respeito das práticas de tortura problematizada por ela e os demais componentes da mesa de discussão.
O livro nos possibilita meditar em questões latentes na sociedade contemporânea, passando por reflexões no plano político, ideológico, econômico e social, tais como o genocídio de animais praticado pelos laboratórios ou mesmo algumas atitudes totalitaristas e doutrinárias como no caso Vigans.
Para falar do abuso contra os animais Costello faz analogias que perturbam seus espectadores ao comparar acontecimentos do Holocausto, como a câmara de gás, com os matadouros de animais.
Costello coloca-os no mesmo patamar de violência e atribuem aos humanos o mesmo grau de omissão, ou seja, estariam no mesmo grau de igualdade tanto na matança de animais como o Holocausto. Na seguinte passagem a seguir seus argumentos são expressos de forma contundente:

“Estamos cercados por empresa de degradação, crueldade e morte que rivaliza com qualquer coisa que o terceiro reich tenha sido capaz de fazer, que na verdade supera o que ele fez, porque em nosso caso trata-se de uma empresa interminável, que se auto-reproduz, trazendo incessantemente ao mundo coelhos, ratos, aves e gado com o propósito de matá-los”.
(COETZEE, 2002: 27).

Segundo Costello os animais são dotados de consciência, assim como as pessoas, e que, portanto deveria ser crime tratá-los com violência ou assassiná-los. Embora a protagonista do livro também coloque que a consciência animal não precisa ser a mesma que a nossa, pois acredita que os animais não têm consciência como nós a conhecemos.
Após a palestra, Costello é convidada para um jantar com membros da Appleton College que seguirão com a discussão iniciada pela palestrante. No jantar, Arendt, reitor da Appleton College coloca que “o vegetarianismo é uma atitude esquisita, já que o beneficiário não faz a menor idéia de que estão sendo beneficiados”, reiterando que os animais “vivem em um vácuo de consciência”.
Destacamos neste momento duas reflexões, a primeira é a resposta de Costello a Arendt sobre sua afirmação na questão da consciência animal, relatando que os animais carecem de uma consciência e que isso o distingue de um ser humano. Outro destaque vai para a segunda importante reflexão do jantar, quando Wunderlich coloca:

'Os bebês não tem autoconsciência, e, no entanto consideramos um crime mais hediondo matar um bebê do que matar um adulto'.
(COETZEE, 2002:55).

Wunderlich sugere que se achamos brutal matar um bebê porque ele não tem consciência, porque razão não pensamos assim em relação aos animais?
Em contrapartida Arendt questiona a existência ou a não existência de consciência presente nos animais, conforme é evidenciado na seguinte passagem:

“Portanto toda essa discussão sobre a consciência sobre se os animais tem consciência é só uma cortina de fumaça. No fundo, nós protegemos a nossa espécie. Polegar para cima para os bebês humanos, polegar para baixo para os filhotes de vaca. Não acha, senhora Costello?’
‘Não sei o que pensar’, ‘Sempre me pergunto o que é pensar, o que é entender. Será que realmente entendemos o universo melhor que os animais? Entender uma coisa sempre me parece brincar com cubo de Rubik. Assim que se consegue colocar todos os tijolinhos no lugar, pronto, você entendeu. Faria sentido se a gente vivesse dentro do cubo de Rubik, mas se não se vive (...)”.
(COETZEE, 2002:55).

Por que não nos embasbacamos diante da morte de milhares de animais para nos alimentar, sem precisarmos deste para sobreviver? Em outro momento Costello se indigna:

“Se é atroz matar e comer bebês humanos, por que não é atroz matar e comer leitões?”.
“Ao contrário de alguns animais, os seres humanos não precisam comer carne. Poderíamos, se quizessemos, tratar os animais com devida simpátia por sua ‘sensação de ser’. Em sua primeira conferência (que constituem a parte principal da primeira conferência de Coetzee), Costello conclui que não há desculpa para a falta de simpatia que os humanos demonstram pelos animais, porque ‘não há limite para o quanto como podemos penetrar como pensamento no ser do outro. Não há limites para a imaginação simpatizante’. No entanto, a maioria dos seres humanos não expande o âmbito de sua imaginação de modo a incluir os animais porque acha ‘que podemos fazer qualquer coisa [com os animais] e escapar ilesos, sem receber nenhum castigo”.
(COETZEE, 2002: 08).
A contenda se desenrola por mais páginas e em nenhum momento o livro tenta atingir uma conclusão e fechar a discussão. O livro trás diferentes pontos de vista a partir de diversos seguimentos acadêmicos e não acadêmico o que nutri a reflexão do leitor mais atento aos detalhes que o livro expõe sutilmente, como o duelo ou a integração destes dois mundos.
No dia seguinte Costello irá articular outro seminário juntamente com o filósofo de Applenton, Thomas O´Hearne, intitulado de “os poetas e os animais”. Após incongruências discursivas entre ambos, O´Hearne segue com a discussão do seminário anterior e coloca que:

“É possível (...) dizer que o bezerro sente falta da mãe? Será que o bezerro pode se dar conta do significado da ausência da materna? Enfim, será que o bezerro sabe o suficiente sobre carência para saber a sensação que experimenta é a de carência?”
(COETZEE, 2002: 79).

Segundo Byambasuren Davaa e Luigi Falorni que realizaram o filme “Camelos também choram”, no deserto de Gobi ao sul da Mongólia, os animais e no caso os camelos nos dão a sensação que exprimem os mesmos sentimentos que nós.
Temos a percepção não somente da rejeição e da carência materna, como os sentimentos de uma “reconciliação familiar” que emociona os seus telespectadores. Será que é emocionante para nós ser humano a cena de um camelo chorando ao se reconciliar com a sua cria, porque para nós existe, enquanto humanos, sentimentos e significados em relação à família, a figura materna, o afeto, a rejeição e as lágrimas. Talvez, se um “camelo assistisse” esta cena ele não ficasse emocionado? Será por que os animais não se emocionam através dos sentimentos dos outros como nós? Por serem capazes de sentir somente os próprios sentimentos? Será que podemos entender dentro de nossos parâmetros e construções reflexivas o que sentem e pensam os animais (se é verdade que isso realmente ocorre)?
Entretanto o livro nos permite situar humildemente o ser humano como mais um integrante do meio ambiente e um “ser planetário”, ou seja, não somos melhores nem piores que outros seres vivos, pois possuímos especificidades que outros animais as possuem de outra forma. Neste sentido concordamos com Harvey na passagem a seguir:

“(...) Somos uma espécie como todas as que há na terra, dotada, como elas, de capacidades e potencialidades específicas que são empregadas com vistas a modificar ambientes de maneiras que levem à nossas próprias sobrevivência e reprodução. Nisso não diferimos de todas as outras espécies (como as térmitas, as abelhas e os castores) que modificam seu ambiente ao mesmo tempo em que aprofundam sua adaptação aos ambientes que elas mesmas ajudam a construir”.
(HARVEY, 2004: 272).

No desenvolvimento do seminário, Costello ainda prossegue com o analogismo entre os matadouros de animais e os campos de concentração nazista. Ela ainda exemplifica:

“Todavia é também pouco prático. Não se pode alimentar quatro bilhões de pessoas com a atividade dos toureiros ou dos caçadores de cervos armados com arco e flecha. Nós nos tornamos muitos numerosos. Não há tempo para respeitar e honrar todos os animais de que precisamos para nos alimentar. Precisamos de industrias da morte, precisamos de animais industriais.
Chicago mostrou o rumo; foi nos matadouros de Chicago que os nazistas aprenderam como processar corpos."
(COETZEE, 2002: 62-63 ).

Esta analogia serve de exemplo para pensarmos naquilo a que já nos referimos e que Costello já alertará; se nós somos capazes de praticar a barbárie com os animais porque não seriamos capazes de fazê-lo com os seres humanos? Folhada mais algumas páginas notaremos que o desenvolvimento desta discussão incomoda quem está na platéia. Uma mulher se levanta e faz a seguinte reflexão a Costello:

‘Especificamente, a minha pergunta é a seguinte: Será que a senhora não está esperando muito da humanidade quando nos pede para viver sem a exploração de outras espécies, sem crueldade? Não seria mais humano aceitar nossa própria humanidade, mesmo que isso signifique abraçar o Yahoo carnívoro que existe dentro de nós, do que terminar como Gulliver, sonhando com um estado que não pode nunca conquistar, e por uma boa razão: porque não está em sua natureza, que é a natureza humana?’
(COSTELLO, 2002: 66).

No entanto para Costello essa não é sua humanidade, pois ela exprime no livro que não tem o prazer de se alimentar de animais e que esta questão se coloca diariamente para ela como, por exemplo, ver em um abajur a pele de uma “jovem virgem judaico-polonesa” ou a embalagem de um sabonete dizendo “Treblinka - 100% estearato humano”.
Costello ainda indaga ao seu filho se não está ficando louca, pois vê e sente a violência e a morte a todo o momento, ao mesmo tempo em que vê bondade e generosidade humana nas pessoas a sua volta. Em outras palavras, podemos afirmar que ela enxerga esperança nas pessoas ou na “humanidade” para que superem esta contradição.
Podemos questionar esta ideologia da autora que é de uma busca da “libertação animal” ou de termos uma “mudança abrupta de consciência nos seres humanos”. Apontaremos dois aspectos criticamente. O primeiro é a verificação de que a “exploração animal” ou a “alimentação de carne” foi decisiva “para que o homem fosse homem”, conforme a passagem a seguir:

“O consumo de carne na alimentação é responsável por dois novos avanços importantes e decisivos: o uso do fogo e a domesticação dos animais. O fogo reduziu ainda mais o processo digestivo, porque permitia levar à boca alimento já em parte digerido. A domesticação dos animais multiplicou as reservas de carne, por ser, ao lado da caça, mais uma nova e regular fonte de alimentação, além de favorecer a obtenção do leite e seus derivados, tão ricos na sua composição quanto a carne”.
(ENGELS, 1990: 28 e 29).

Sabendo que o ser humano tem responsabilidade com outros seres vivos viventes no globo terrestre, podemos afirmar que se o homem não comesse carne demoraria séculos para a existência do “Homo Sapiens Demens” ou mesmo para a existência de uma sociedade organizada. Apesar de visualizarmos no livro de Mendonça (2003) que existem ou existiram sociedades humanas em “simbiose” com outros seres vivos, não devemos perder de vista o desenvolvimento das potencialidades máximas do ser humano e a construção de uma sociedade baseada na cooperação e igualdade nas relações sociais.
O desenvolvimento das potencialidades nos seres humanos ou mesmo a existência das sociedades contemporâneas foram alcançadas de maneira desigual e também com muita barbárie, tendo a sociedade pautada pelo modo de produção capitalista construída sobre estes pressupostos. Isso nos indaga a pensar se outros seres vivos podem vir à desenvolver uma sociedade objetiva ou desenvolvida como a nossa. Entretanto, podemos concordar mais uma vez com Engels nesta passagem esclarecedora:

“Os animais só podem utilizar a natureza e modificá-la apenas porque nela estão presentes. Já o homem modifica a natureza e a obriga servi-lo, ou melhor: domina-a. Analisando mais profundamente, não há dúvida de que a diferença fundamental entre os homens e os outros animais está na força do trabalho”.
(ENGELS, 1990: 33).

O outro aspecto analítico da ideologia da autora em que criticaremos é da “necessária mudança de consciência do ser humano” que modificaria sua relação com os outros seres vivos e com seres de sua espécie. Podemos afirmar que nesta ideologia esta mudança seria essencial para a construção de uma nova sociedade igualitária em que não mataríamos “bebês humanos ou bebês porcos”.
Entretanto será que esta concepção de mundo não diminui as contradições sociais que levam à desigualdade e à exploração humana? Será essa uma atitude que realmente modificaria o mundo? Parodiando Marx e Engels em O Capital, podemos afirmar que o “ser social determina a consciência das pessoas pautada nas condições materiais de sua existência”, ou seja, a mudança de consciência e de ideologia do ser humano é extremamente dependente da luta pela mudança das condições materiais e sociais que levaram à organização social de nossa sociedade. A luta pela libertação animal e pela mudança de consciência deve passar necessariamente pela busca de uma nova sociedade igualitária e livre de explorações de classes sociais.
As questões abordadas no livro nos dão margem para discorrer que a humanidade é contraditória no ato de consumir carne, perdendo a humanidade, onde podemos utilizar o exemplo do Japão que mata Baleias para satisfazer o rico mercado de cosméticos. Todas essas contradições que são explicitadas estão presentes no cotidiano do ser humano promovendo uma “cegueira branca”, conforme pode ser percebido na seguinte passagem:

“Que tens, perguntou-lhe a mulher, e ele respondeu estupidamente, sem abrir olhos, Estou cego, como se essa fosse a última novidade do mundo, ela abraçou com carinho, Deixa lá, cegos estamos nós todos, que havemos de fazer, vi tudo escuro, julguei que tinha adormecido, e afinal não, estou acordado, É o que deverias fazer, dormir, não pensar nisso. O conselho aborreceu-o, ali estava um homem angustiado como se ele sabia, e a sua mulher não tinha mais nada para lhe dizer senão que fosse dormir”.
(SARAMAGO, 2000: 306).

Podemos fazer uma analogia do livro Ensaio Sobre a Cegueira e o livro A Vida dos Animais, em que identificamos vários caminhos possíveis de cegueira, numa sociedade extremamente alucinada pelo simples fato de pensar de maneira individual e dogmatizada, cujo objetivo é defender seus pontos de vistas autoritariamente.
O diálogo que nos é apresentado no livro A Vida dos Animais possibilitou-nos a visualização do processo de consolidação do pensamento científico, o qual provém do ato da desconstruir e construir sob novas perspectivas teóricas metodológicas como pode ser evidenciado ao longo das falas tanto do filósofo quanto da poeta:

“Permanece a questão da crueldade. É lícito matar animais eu diria, porque suas vidas não são tão importantes para eles como nossas vidas São para nós; a maneira antiquada de dizer isso é que os animais não têm almas imortais. A crueldade gratuita, por outro lado, eu consideraria ilícita. Portanto, é bastante adequado que nos movimentemos em prol de tratamento humanitário para os animais, mesmo e particularmente nos matadouros.
Há muito tempo esse é o objetivo das organizações protetoras dos animais, eu as cumprimento por isso”.
(COETZEE, 2002: 77).

O trecho mencionado nos dá embasamento para fazer uma leitura social do que nos é apresentado no livro através do discurso de Elizabeth Costello, que é contrário ao consumo de animais. Mas será que o não consumo de carnes é algo tão maléfico num mundo regrado por disparidades sociais e onde a cada minuto uma pessoa morre de fome por falta de nutrientes básicos para ela subsistir?
Apesar do livro mostrar esta contradição da “desumanização” do ser humano no trato com outros seres vivos, não há um questionamento incisivo sobre as contradições da sociedade capitalista e os condicionamentos sociais que levaram aos seres humanos trabalharem para uma indústria de cosméticos, laboratório de experimentos animais ou em um matadouro de animais. Para termos uma análise mais ampla e dialética, entende-se que devemos colocar leituras que levem em conta a luta de classes.
Vivemos numa sociedade estruturada num sistema econômico e social excludente que pode ser verificado no mercado da industria de sapatos, onde um indivíduo trabalha horas a fio para receber um “salário de subsistência” para garantir seu parco sustento. É lamentável este tipo de produção, pois são fabricados calçados que talvez jamais venha a satisfazer o poder aquisitivo do operário, mas sim a um fetiche de quem tem possibilidade de consumir um calçado feito com couro de cobra ou de jacaré, ou seja, um mercado alimentado pela ostentação de bens materiais e regrado pelo poder econômico.
Não devemos nos esquecer que desde o homem pré-histórico havia a necessidade, de se nutrir de outro ser vivo ou mesmo utilizar a pele de um determinado animal para se aquecer, ao contrário da sociedade contemporânea, a qual mata animais como jacarés, cobras e bois, apenas para manter um sistema desigual e desumano. Matam-se animais para saciar caprichos individualistas e para a reprodução de capital, mas não para saciar a sua fome, conforme a seguinte passagem:

NOS SUPERMERCADOS DA VIDA
SE CONHECE O HOMEM E SEUS PREÇOS
BARATOS OU CAROS
ELES VENDEM SUAS ALMAS
NESSA PODRIDÃO
POESIA AMORFA PEDRA QUE ELES NÃO QUEREM LAPIDAR

NOS SUPERMERCADOS DA VIDA
SE CONHECE O HOMEM E SEUS PREÇOS
PRA ELES TUDO É PEQUENO
EM SUAS MÃOS E CABEÇAS
ROLAM CHEQUES E MOEDAS
NUMA FARTA E MESQUINHARIA
SUA VISÀO É EMBASSADA
MUITO LONGE SE ASPIRA A FELICIDADE

POIS NELES TUDO É RELES
PRATILEIRAS DE MAU CARATISMO
COMO CORAÇÕES CONGELADOS
NUM FREEZER ENGUIÇADO
COMO PORCOS NA LAMA
PASSEANDO PELO LIXO QUE SÀO SUAS VIDAS
ENTRE RESTOS E RESTOS
DESTROEM O PRAZER DE VIVER

NOS SUPERMERCADOS DA VIDA
SE CONHECE O HOMEM E OS SEUS PREÇOS BARATOS OU CAROS
ELES VENDEM SUAS ALMAS”
(Frejat/ Jorge Salomão)

Seguindo a mesma linha de pensamento de Costello, entendemos que deva ser levada em conta a liberdade de expressão e de escolha, mas dizemos isso tentando fugir da ótica individualista burguesa. As pessoas têm o direito de escolher ser ou não ser “carnívoras” embora isso não agrade uma das partes, tais como os “vegetarianos”.
Não entendemos que deva ser prioridade absoluta a luta em “ser” ou “não ser” vegetariano, pois vivemos numa sociedade extremamente exacerbada pelo conflito de classes, dualizada na lógica entre ricos e pobres. Podemos levar esta luta conjuntamente, mas não devemos perder de vista que temos de acabar com a miséria sociocultural presente na sociedade, para assim podermos escolher se queremos ou não consumir carne. Devemos fazer de maneira equilibrada para não esquecer que somos “seres planetários” e “hologeicos”.
Coetzee explora seu livro dentro do ambiente acadêmico, refletindo sobre a interação do científico e da literatura de Costello. O texto também manifesta, através de Costello, um ambiente acadêmico que indica ser cheio de “imbecilidades”. Mas o autor utiliza esse próprio ambiente familiar para acalorar a discussão, colocando a sogra poeta, o filho (físico) e a nora (filósofa) para refletir o tema central do livro como ocorre de maneira semelhante no filme “Pontos de Mutação”, em que há um dialogo entre o poeta, o político e a cientista.
Coetzee coloca Costello como protagonista a fim de garantir uma valorização da literatura sobre as demais formas de conhecimento (no caso a física e da filosofia), ou mesmo de termos um reconhecimento da “cientificidade” da arte.
O livro nos passa a sensação de uma senhora militante cansada, já sem forças para lutar, mas que, no entanto, não quer e não consegue se calar diante o que não acha correto ou incompatível com sua concepção de mundo e de liberdade.
É válida a luta pela emancipação animal (principalmente se a iniciativa partissem destes), entretanto entendemos que devemos levar em consideração a luta por uma sociedade humana diferente da que temos atualmente, ou seja, acreditar que um sistema baseado na exclusão e diferenciação de classes, tal qual o capitalista, pode ser combatido e derrotado. Podemos, assim, alcançar uma sociedade que seja pautada em igualdades e na inexistência de explorações.


Bibliografia

Livros:

CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação, São Paulo, Editora Cultrix Ltda, 1982, pp.447. 
COETZEE, J. M. A Vida dos Animais, 2ª Edição, São Paulo, Editora Companhia da Letras, 2002, pp.148.
ENGELS, Friedrich. O Papel do Trabalho na Transformação do Macaco em Homem, Rio de Janeiro, Global Editoras, 1990.
HARVEY, David. Espaços de Esperança, São Paulo, Edições Loyola, 2004.
MORIN, Edgard. Introdução ao Pensamento Complexo, Lisboa, Instituto Piaget, 1991.
MENDONÇA, Rita. Conservar e Criar/Natureza, Cultura e Complexidade, São Paulo, Senac, 2003.
NOVACK, George. A Lei do Desenvolvimento Desigual e Combinado da Sociedade. Brasil, Rabisco Criação e Propaganda Ltda, 1988.
SARAMAGO, José. Ensaio Sobre a Cegueira, São Paulo, Editora Companhia das letras, 2000, pp.310.

Filmes:
Pontos de Mutação.

Camelos Também Choram.

Nenhum comentário:

Postar um comentário