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segunda-feira, 6 de outubro de 2014

RESENHA e ATIVIDADE FILME: “O Homem que virou Suco”

Filme: “O Homem que virou Suco”.
Perguntas do filme:
1)    Por que Deraldo foi confundido com outra pessoa? Vocês acham que ocorreu algum tipo de preconceito?
2)   Qual era a importância de se ter documentos? Só ter documentos é o suficiente para ser “cidadão de fato”?
3)    porque o empregado matou o patrão? O que José tinha feito na empresa?
4)    Por que Deraldo conseguia empregos de baixa qualificação? Ser poeta e escritor de cordel pode ser considerado uma profissão?

5)    O que significa as pessoas “virarem suco”? Por que isso ocorre?


escrevi esta resenha em meados de 2008.

RESENHA DO FILME “O HOMEM QUE VIROU SUCO”

Wladimir Jansen Ferreira

O filme conta a história de dois migrantes nordestinos, um poeta popular (escritor de cordel) e um operário que tinha assassinado o seu patrão, mas a trama começa quando o primeiro personagem é confundido com o segundo. O filme se utiliza de várias metáforas para criticar a desigualdade social e o processo de urbanização da cidade de São Paulo.
O migrante paraibano Deraldo é um poeta popular e uma pessoa com posicionamentos críticos e politizados, tendo como fonte de renda a venda autônoma como ambulante dos seus poemas de cordel. Ele é um recém-chegado na cidade de São Paulo e não possui documentos de identidade, fato que faz ser constantemente perseguido e reprimido por policiais e fiscais da prefeitura.
Esta situação constrangedora em que passa cotidianamente e pela opressão sofrida por viver em péssimas condições de vida, faz com que Deraldo se torne uma pessoa revoltada e inconformada com as injustiças da realidade.
Entretanto, o estopim para que a revolta de Deraldo seja extravasada, foi uma confusão em que fizeram dele com José Severino, um operário também nordestino (só que desta feita do Ceará). Este operário era fisicamente idêntico à Deraldo e estava foragido por ter matado o patrão na cerimônia em que estava sendo condecorado.
Teremos agora uma estafante jornada de Deraldo para tentar “limpar seu nome” e também para entender porque José assassinou o seu patrão. Esta sua jornada também é uma forma de buscar sua identidade no meio de uma megalópole tão formal e insensível como a cidade de São Paulo. A confusão não foi algo despropositado, pois a maioria dos migrantes em São Paulo são submetidos à condições de vida adversas e miseráveis, sendo preconceituosamente confundidos e rotulados como uma grande massa sem individualidade ou identidade própria.
Nesta constante busca, Deraldo vais lentamente e alucinadamente derrubando preconceitos e visões exploratórias, através de posicionamentos éticos e humanistas. Inicialmente, ele não se acomoda com as humilhações do “chefe de obras” de uma grande construção imobiliária de alta classe (onde tragicamente a maioria de seus companheiros de obra são nordestinos e analfabetos), depois não aceita o tratamento dado por sua patroa rica (ironicamente com parente nordestinos, só que um abastado coronel) e por fim questiona veementemente as condições exploratórias em que ele e seus colegas operários passam no estafante trabalho de construção do metrô paulistano do fim da década de 1970.
Interessante destacar dentre estas situações, a propaganda e a “lavagem cerebral” que os engenheiros do metrô estavam realizando com seus operários, tentando induzir a estes que o trabalho e o respeito total ao patrão seria algo indispensável para que conseguissem o emprego, além do que, deviam abortar de todos os costumes e modos de vida “atrasados”, que “supostamente” levavam em sua terra natal, no nordeste brasileiro.
Depois de ter passado por estas privações e provações, Deraldo que estava sendo perseguido pela polícia, começará a ficar ruim de saúde, tendo quase enlouquecido (ou virado “suco”). Será internado numa clínica filantrópica, que é constantemente visitado por madames de alta classe e de organizações com “responsabilidade social”. Entretanto, ele se indisporá com estas pessoas e fugirá desta clinica para terminar sua busca.
Nesta sua empreitada final, Deraldo (que tinha se comprometido com um amigo em fazer um cordel que contaria a “história do operário que matara o patrão”) procura os antigos colegas de fábrica de José. Estes lhe disseram que José tinha “pisado na cabeça de outros funcionários” para subir na hierarquia da empresa e que tinha feito acordos escusos com o patrão na finalidade de entregar os operários sindicalizados e agitadores. No entanto, esta subida na vida de José foi breve, acompanhada com muitas brigas e de um boicote ao trabalho de seus colegas descontentes com José, fazendo com que o patrão o demitisse.
Ironicamente no dia em que Jose receberia uma condecoração da empresa, ele estava desempregado e decide matar o seu patrão. Depois de realizado o crime, Jose “vira suco” e enlouquece, sendo encontrado por Deraldo em situação degradante em sua casa na periferia de São Paulo.

O brilhante filme se encerra com o desvendamento e o esclarecimento desta confusão criada entre Deraldo e José. Conquanto, situações exploratórias com trabalhadores de baixa renda, moradias e bairros com pouca infra-estrutura e rede de serviços, além das humilhações inconseqüentes com migrantes nordestinos ainda acontecem “às pencas” na cidade de São Paulo. Este cumpre perfeitamente um papel denunciativo e de formação de uma consciência crítica e questionadora da realidade que não mudou tanto de 1979 para cá.

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