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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O Fantástico como Procedimento Estético em Contos de Murilo Rubião

repasso artigo que a minha companheira Rosângela Trindade de Sousa fez para o curso de "Especialização em Literatura" na PUC-SP, no ano de 2002.

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O FANTÁSTICO COMO PROCEDIMENTO ESTÉTICO EM CONTOS DE MURILO RUBIÃO

Rosângela Trindade de Sousa



Introdução

Este presente trabalho terá como finalidade de mostrar o problema da definição do fantástico, pois alguns críticos nos revelam que defini-lo foi uma tarefa muito difícil. No entanto, Todorov (1975) nos pontará que o ponto principal do fantástico é a situação de “ambiguidade”, pois ele nos dirá que o fantástico ocorrerá em uma incerteza. Trata-se de uma hesitação experimentada por um ser que só conhece as leis naturais, em face de um fato aparentemente sobrenatural, portanto seu conceito se define com a relação entre o real e o imaginário.
No primeiro capítulo, nos utilizaremos de Todorov (1975) para apresentar outras definições para o fantástico, no entanto, já no século XX, essas desaparecerão quando Todorov dirá que o homem não hesita mais diante do fantástico, pois uma inversão será feita: “o homem torna-se o objeto fantástico, e passa a ser a regra e não a exceção”.
Neste trabalho, ainda apresentaremos algumas diferenças entre o fantástico do século XIX e o neofantástico, sendo que o primeiro explora a dimensão psicológica, em que o sobrenatural é substituído por imagens assustadoras cuja origem está na loucura, nas alucinações, nos pesadelos. Já no século XX, o fantástico transportou-se para a linguagem, por meio da qual foi criada a incoerência entre elementos do cotidiano e da vida comum.
No segundo capítulo, analisaremos o gênero fantástico de Murilo Rubião no século XX, pois ele pode ser considerado um criador de um mundo à parte, ou seja, seu gênero se desgarra de uma realidade imediata como uma “fantasia” que incorpora o “estranho” no universo ficcional, como também no universo do leitor que se torna o “objeto fantástico”.
Quando Murilo trabalhava com o gênero fantástico em suas obras, o que mais espantava nele é a sua perfeita naturalidade da convivência com o espantoso que acarreta um humorismo áspero, revoltado e um sarcasmo maltratante. Dessa maneira, verificamos que o fantástico “muriliano” questiona o problema da loucura, do real e da razão, denuncia a angústia do homem alienado pelas forças dominantes, dramatiza a questão do desejo e sua interdição além de propiciar, na autocontemplação da criação metapoética, um voltar-se da obra sobre si mesma, na expectativa de que ela se descubra enquanto projeto criador.
Por fim, no último capítulo, veremos como Murilo preparava a linguagem fantástica nos seus contos, pois ele incorporava algumas figuras (metáforas, paradoxos, hipérboles e repetições) que funcionavam como procedimentos estéticos, as quais desvendavam os mecanismos fantásticos da sua narrativa.

Capítulo I: A definição do fantástico na literatura

Alguns críticos nos revelam que definir o que é um termo fantástico, e que obras pertencem ao gênero, foi um trabalho difícil, já que este foi usado especificamente, que transgredisse as leis de causalidade, sob esta denominação encontra-se um universo: o maravilhoso, o estranho, o sobrenatural, o inexplicável e as rupturas com o real.
Na América Latina, podemos citar alguns escritores que utilizam o fantástico como: Jorge Luiz Borges, Julio Cortazar, Gabriel Garcia Marques, entre outros. No Brasil, encontramos as marcas do fantástico em Álvares de Azevedo, Machado de Assis, Monteiro Lobato, Mario de Andrade, entre outros. No entanto, o fantástico aparece fortemente nas obras de Murilo Rubião, Jorge Miguel Marinho e José J. Veiga.
Mas o que seria, então, o fantástico na literatura? Em Introdução à literatura fantástica, Tzvetan Todorov (1975) salienta que o ponto principal do fantástico é a situação de “ambiguidade”. No entanto, as histórias que pertencem a este gênero nos deixam as perguntas. “Realidade ou Sonho?” “Verdade ou Ilusão?” Quando um leitor se encontra com um mundo que é exatamente como o seu, qualquer acontecimento que fuja às leis desse mundo familiar cria a duvida e a incerteza sobre a possibilidade do fato ser ou não real.
Todorov dirá que o “fantástico ocorre nesta incerteza (...). O fantástica é a hesitação experimentada por um ser que só conhece as leis naturais, face a um acontecimento aparentemente sobrenatural. O conceito de fantástico se limita a relação entre o real e o imaginário” (Todorov, 1975: 31). O autor ocorrerá a outras definições de fantástico, assegurando que, em algumas, “cabe ao leitor hesitar entre as duas possibilidades” e, em outras, esta hesitação fica à mercê da personagem. O limite entre o estranho e o maravilhoso é apenas o tempo de uma hesitação. Segundo o crítico, essa hesitação é comum ao leitor e à personagem, porém tem sua duração restrita ao momento da narração do fato. Essa hesitação é a condição primeira do fantástico, mas, há a necessidade de uma postura de leitura em que Todorov ressalta: “o fantástico implica, portanto, não apenas a existência de um acontecimento estranho... mas também uma maneia de ler... que deve ser nem ‘poética’, nem ‘alegórica’” (Todorov, 1975:38). Isto significa que o fantástico nem deve ser lido se remetendo uma outra coisa, nem como uma combinação de palavras, pois no sentido “alegórico”, as palavras deste texto seriam lidas como tendo um outro sentido e no “poético”, também não podem ser vistas como representativas ou como uma sequência verbal que não pretender ir além disso, pois os fatos devem e não devem ser compreendidos como são.
Uma ressalva de Todorov faz às definições do gênero é a da insistência em colocar o “critério do fantástico (...) na experiência do leitor”, mais detalhadamente na experiência do medo ou terror que ela é capaz de provocar. Se a duração do fantástico é a hesitação, então estamos diante de um gênero intensamente frágil, que se pode desfazer a qualquer momento. No entanto, essa definição de Todorov não se estende aos escritores do século XX, pois ele nos dirá neste século há um abandono da hesitação, ou seja, o homem não hesita mais diante do fantástico, pois uma inversão será feita: “o homem tornar-se o objeto fantástico e passa a ser a regra e não a exceção”.
Como, então, definimos o fantástico do século XX? Antes do século XIX, o fantástico surge como reação a um mundo em que o medo não tem mais espaço diante da infabilidade das leis postuladas pela ciência. Por vir contra a esta ordem estruturada, o fantástico funciona como uma ruptura. No entanto, esse fantástico passou a explorar a dimensão psicológica, sendo o natural substituído por imagens assustadoras cuja origem estava na loucura, em alucinações, pesadelos (a causa da angustia estava no interior do sujeito). Já no século XX, o fantástico transportou-se para a linguagem, por meio da qual foi criada a incoerência entre os elementos do cotidiano e da vida comum ( a causa da angustia está na falta de nexo na ordenação de coisas comuns, na falta de sentido, no surgimento do absurdo).
No entanto, a função de estremecer o leitor com a quebra de uma ordem inviolável fica perdida com a ampliação do horizonte em quase todas as áreas do conhecimento humano e a relativização do que se entendia por absoluto, a “ordem inviolável” sofre transformações. Este mundo ordenado é substituído por um mundo de ambiguidade, sempre aberto para uma revisão, tanto dos valores quanto das certezas. Desse modo, o fantástico perde a sua função, já que a inovação fará parte de uma nova ordem. Portanto, a definição passa a ser necessariamente o seu contrário: a indefinição. São estes “signos abertos à indefinição”, denominados metáforas que possibilitam a transcendência de limites, mesclando o natural e o sobrenatural.
Ressaltamos que tanto no fantástico tradicional quanto no neofantástico, os fatos transgridem as leis da causalidade. No segundo fantástico, no entanto, nem leitores, nem personagens hesitam diante destes fatos. A opção pelo gênero acaba sendo a opção pela possibilidade de transgressão ou inovação.

Capitulo II: O gênero fantástico de Murilo Rubião

Constatamos que Murilo Rubião inaugurou o gênero fantástico do século XX em suas obras, no entanto, ele deve ser visto como um inventor de um mundo a parte, ou seja, seu gênero se desgarra  de uma realidade imediata como uma “fantasia” que incorpora o “estranho” no universo ficcional, como também no universo do leitor, tornando-o “objeto fantástico”. Quando Murilo trabalha com o gênero fantástico, o que mais espanta nele é a perfeita naturalidade da convivência com o espantoso que acarreta um humorismo áspero, revoltado e um sarcasmo maltratante.
Dessa maneira, verificamos que o fantástico “muriliano” questiona o problema da loucura, do real e da razão; denuncia a angústia do homem alienada pelas forças dominantes, dramatiza a questão do desejo e a sua interdição, além de propiciar, na autocontemplação da criação metapoética, um voltar-se da obra sobre si mesma, na expectativa de que ela se descubra enquanto projeto criador.
Adentro de um mundo imaginário, Murilo conduzia um narrador geralmente em primeira pessoa, vítima do desagrado e do cansaço, lúcido e descrente, incapaz de qualquer susto, incapaz e sempre infeliz, derrotado e, ao mesmo tempo injustiçado com os fatos inusitados e a atmosfera opressiva de sua penosa existência.. Por fim, um mundo, reduzido e confinado em um círculo, no entanto, se cumpra à risca, como se obedecesse a um tratado lógico, tudo projetado com a perspectiva do humor e da ironia. Às vezes, aproximando-se do cômico e, num grau absolutamente sério, a graça e a crueldade infantis de uma farsa circense, com efeito aumentado pela transparência da linguagem, na tradição da escrita mineira, sem vangloriar de si mesma, porém, quase sempre, a linguagem do contista tende para um fundo trágico, onde caem e se encerram personagens sem horizontes.
Anteriormente, citamos que, tanto o narrador quanto o leitor, são cúmplices desse mundo imaginário do fantástico, só que há uma diferença em que o sonho pode apresentar uma conexão orgânica semelhante à do mundo ficcional, sendo que o mundo “muriliano” é produto da intenção de um autor que busca a construção dos elementos estranhos no contexto da realidade cotidiana, mediante a paralisação da surpresa. Trabalhando com materiais muitas vezes arrojados ou arbitrários, torna-se capaz de sugerir, pela transgressão da causalidade, do espaço ou do princípio de identidade do ser, o “clima onírico”. Pode-se, casualmente, utilizar esse tipo de material, extraindo-se diretamente dos sonhos, como o próprio Murilo declara ter acontecido o episódio de “Epidólia”. Entre outros casos, se poderia mesmo suspeitar que a intenção artística fosse a de imitar a aparente desconstrução e incongruência com que nosso mundo ressurge na tela movimentada às vezes do pesadelo, tornando-se particularmente marcada na leitura desses contos como: “A casa do girassol vermelho”, “Petúnia”, “Os comensais”, “O convidado”, “O bloqueio” entre outros.
Entre esses contos, o leitor, ao se reconhecer como narrador ou como personagem em que recai no foco narrativo, ele é levado a exercer o papel de um sonhador cúmplice, mais necessariamente, de alguém que tem a sensação de estar dentro do mundo criado, ao mesmo tempo em que se vê fora. Portanto, ele se torna o mediador par um mundo ficcional, sendo parte integrante deste, está até certo ponto distanciado, na situação de quem sonha acordado, com uma lucidez minuciosa que tende a desempenhar a experiência de que está vivendo e, na maioria dos fatos, narrando.
Não se surpreendendo, esse mundo nos encaminha para a familiaridade com o estranho, fazendo do mundo de fora uma extensão do de dentro e sugerindo uma continuidade efetiva entre o fantástico e o real. Então, vivemos o choque da estranheza, mas logo somos levados a nos sentir em casa diante do disparate. Significa que não estamos a salvo, temos a obrigação de estar dentro, vendo-nos, entretanto, de fora. Por meio deste procedimento, nos transformamos em integrantes de um mundo deslocado, que, paradoxalmente, é ainda o nosso.
Por outro lado, não devemos evidentemente contemplar esse mundo, porque fazemos parte dele e já não conseguimos escapar à sua disposição rotineira para a catástrofe – “a reviravolta fantástica”. Em consequência, quando a técnica não malogra, o leitor é leva a participar de um mundo ficcional, sendo que ainda é o seu mundo, onde dissolve o estranho na rotina, pode, então, perceber melhor, à distância, numa visão crítica, sua própria vulgaridade. Como a outra, a da ficção, ela também parece estar minada, rotinizando os mais espantosos desastres. A realidade meramente dada aos olhos como normal passa a ser um engano. O fantástico, então, dá lugar ao afloramento de um real mais fundo.
Entretanto, essa energia crítica, nascida da negação de uma dada realidade, só se configura a partir do mundo à parte, preso como um sonho. Ao penetrar nele, o leitor cúmplice se sente acuado numa situação de enclausuramento. Desse modo, citamos o personagem de “O bloqueio” que acaba sitiado num edifício em demolição progressiva, roído por uma ameaça iminente de destruição, que não se efetiva até o final do relato, nem tampouco permite que se encontre a saída. Em um fato terrível como esse, estamos sob a pressão de um sonho ruim e, de fato, no inicio do conto se alude ao “sono pesado” do personagem e à sua tendência para confundir “restos de sonhos com fragmentos da realidade”. Logo após, um barulho violento se interpõe, indicando a estranha demolição do edifício “recém-construído”, e o arranca mais de uma vez do sono, para abrigá-lo a viver às claras o pesadelo. E, com ele, o leitor.
Talvez se possa dizer que o narrador ou o personagem que introduz o ponto de vista interno da ficção “muriliana”, acomodando-nos aos princípios de estruturação desse mundo às avessas, é sempre um sonhador desperto. No conto “Ofélia, meu cachimbo e o mar”, fica evidente o que isto possa significar para a compreensão do modo de ser da arte de Murilo. O Narrador, numa situação propícia ao sonho acordado (após o jantar, cachimbando, sentado defronte ao mar) se entregava diversas conversas com a Ofélia, reconstruindo o passado marítimo de sua família, sem fazer gosto da parceira, só interessada em relatos de caçada. No final do conto, o leitor se espanta ao saber que Ofélia é um cachorro. “Desse modo o conto é assim, o resultado de longa fantasia, cujos elementos romanescos – as imaginárias façanhas marítimas – voltam a terra, com o latido forte do animal, que deve suportar mentiras fantasiosas em troca do prato de comida” (ARRIGUCCI JR, 1987: 148).
Enfim, a fantasia sustenta a arquitetura do conto, representa o lance da aventura e realiza, imaginariamente, um desejo de novas sensações, bloqueado, ao que parece, pelos hábitos sedentários do narrador e por sua origem enclausurada: “um vilarejo de Minas, agoniado nas fraldas da Mantiqueira”. Oposto à serra, o mar abre o vasto espaço dos sonhos e do amor: “o meu amor pelas mulheres veio do mar”, diz o narrador, desperto para as vozes e as promessas das águas. Mas “os sonhos, sonhos são” (ARRIGUCCI JR, 1987: 148).
No entanto, o narrador não só interliga o universo do sonho à realidade exterior, na verdade, se coloca no meio da contradição entre o estranho e a rotina. Sendo o mediador para o fantástico, ele próprio é objeto fantástico, pois é por seu intermédio que se instaura o mundo estranho e comum. Nele, portanto, a função de mediar aparece exorbitada; foi convertida num fim em si mesma. Introdutor de um mundo fantástico, ele é já esse mundo, cujos princípios de organização repetem. A ausência de espanto mostra que ele se identifica com as regras de seu universo, como um ser que se remete às leis da organização a que pertence, sem ter participado de sua elaboração e sem acesso aos fins a que se destina. Por assim dizer, “vai de arrasto”. Como vitima de um destino que o leva a indignar-se ou esbravejar apenas numa esfera reduzida e cada gesto só desenha a mesma impotência. Embora lucido, sua consciência está paralisada, com sua capacidade de ação efetiva: não é sujeito da história. Está ora à margem, ora à deriva, e sempre lhe desprende a dimensão da totalidade em que se acha imerso. Como que hipnotizado, vagueia aos troncos e barrancos, prisioneiro de uma “cadeia de equívocos”.
Nessa expressão se caracteriza os sucessivos desencontros de “O convidado”, pois neste conto, o personagem mediador aceita ritualmente um convite formal para uma festa de finalidade obscura: no local, só consegue se encerrar num labirinto de saídas adiadas, sempre se deixando levar, sem dar com o objetivo para o qual recebeu convite. Todavia, o efeito ambíguo deriva nesse universo ate aqui escrito, com seu jogo de incertezas entre o fantástico e o real que pode conduzir não à cumplicidade, mas a uma reação de desconfiança. Na visão do leitor, pode parecer mistificação, como se também ele estivesse preso a equívocos estranhos ou fosse vitima de uma brincadeira de mau gosto. Quando vislumbra, porém, que a técnica narrativa forma corpo com os temas e está vinculada a certos princípios internos do mundo ficcional, percebe uma coerência mais funda, que passa a exigir interpretação.
Na realidade, o método de Murilo que manobra seus mediadores para envolver o leitor no seu jogo, correlaciona a uma articulação interna e complexa, cujo sentido apenas se tocou na descrição. Contradições recorrentes e mutuamente relacionadas, entre estranho e banal, sonho e vigília, fantasia e rotina, fantástico e real, apontam para rumos comuns e parecem repercutir nos efeitos de envolvimento e distancia do sonhador e seu cumplice. Penetrar até ela, buscando os princípios que regem sua organização na estrutura dos contos, é o caminho para se entender não apenas a justificativa profunda da técnica, garantia de organicidade e da eficácia estética da obra, mas os princípios gerais dos significados que possa ter.

Capítulo III: A linguagem fantástica em Murilo Rubião

Percebemos que o fantástico só sobrevive por meio da linguagem, criando assim uma contradição em relação ao mundo real que a constitui. No entanto, Murilo engrandecerá essa linguagem através de atributos inseridos ao material narrado para que o leitor se confunda em relação ao mundo real e imaginário. Dessa forma, teremos na linguagem “muriliana” o predomínio da metáfora que se enriquece na medida da força do seu “estranhamento”, ou seja, aquilo que a valoriza é o seu efeito insólito.
Desse modo, citamos o conto “Teleco, o coelhinho”, no qual o narrador/personagem se depara com constante transformação do coelhinho que ora é animal ora é ser humano. Metaforicamente o animal se torna humano quando estabelece um discurso dialógico com o narrador, daí, nesse caso, ocorre o efeito do “estranhamento”. Por meio desse processo, o elemento fantástico nasce nesse momento como um “desvio” narrativo, sendo captado semanticamente pelas suas peculiaridades que ajudam a defini-lo. Exemplificamos o início do conto “Teleco, o coelhinho”.
“- Moço, me dá um cigarro?
A voz era sumida, quase um sussurro. Permaneci na mesma posição em que me encontrava, frente ao mar, absorvido com ridículas lembranças.
O importuno pedinte insistia:
- Moço, oh! Moço! Moço, me dá um cigarro?
Ainda com os olhos fixos na praia, resmunguei:
- Vá embora, moleque, senão chamo a polícia.
- Está bem moço. Não se zangue. E, por favor, saia daminha frente, que eu também gosto de ver o mar.
Exasperou-se a insolência de quem assim me tratava e virei-me, disposto a escorraçá-lo com um pontapé. Fui desarmado, entretanto. Diante de mim estava um coelhinho cinzento, a me interpelar delicadamente:
- Você não dá é porque não tem, não é moço?”[1]
Nesse exemplo, a personagem não questiona a presença do coelhinho, mas faz com que nós o aceitemos no ato da leitura. Esta combinação é feita graças à extraordinária força dos dados miméticos que representam o discurso, e a fusão fantástico/cotidiano é imediata, não havendo espaço para surpresas, dúvidas ou desconfianças. O pedido inicial de um cigarro toma conta da intriga, diluindo totalmente o efeito que a presença fantástica de um coelho possa ter como personagem interlocutor:
“Diante de mim encontrava-se um coelhinho cinzento, a me interpelar delicadamente” (p. 143).
No entanto, o diminutivo “coelhinho” e o advérbio “delicadamente” diminuem o efeito do estranhamento. E, reforçando a integração no desenrolar da intriga, a discussão a respeito do cigarro é retomada como se fosse o único elemento que realmente interessa às duas personagens, reduzindo o tempo de inverossimilhança:
“Dei-lhe o cigarro e afastei-me para o lado, a fim de que ele visse o oceano. Não fez nenhum gesto de agradecimento, mas já então conversávamos como velhos amigos”. (p.144)
A combinação é dominante, por meio de três elementos:
1) Oferta do cigarro;
2) Participação mútua do narrador e da personagem (verem juntos o oceano);
3) Integração afetiva dos dois (“como velhos amigos”).
Podemos, ainda, assegurar que neste exemplo, a verossimilhança é sustentada por uma equivalência determinada pelo desejo semelhante das duas personagens – o lazer (contemplação do mar e cigarro). Por outro lado, o inverossímil predomina com o seu tempo de integração do discurso verossímil, por exemplo, o estranho aparecimento dos dragões, no conto “Os dragões”, é inicialmente questionado pelas personagens do conto. Inverossímeis pela sua repentina presença entre os seres humanos, eles vão sendo sintonizados paulatinamente pelos “efeitos do real” do discurso, até que a verossimilhança do mesmo os integre e os iguale aos homens. O tempo deste processo inexiste em “Teleco, o coelhinho”, onde a vitória do verossímil é evidente.
Outro atributo importante que está na linguagem fantástica “muriliana” é a figura do paradoxo, a qual se define como uma proposição aparentemente absurda, resultante da reunião de idéias contraditórias que nos remete ainda à “ironia” que consiste na inversão de sentido: afirma-se o contrário do que se pensa, visando à sátira ou à “ridicularização”. Desse modo, esta fusão de elementos antagônicos, ou inconciliáveis na sua essência, vai de encontro à linguagem de Murilo Rubião.
Por outro lado, vida ou morte do conto “Pirotécnico Zacarias” não apresentam uma oposição, eliminado a logica disjuntiva baseada na formula das conjunções ou/ou. O duplo vida/morte convive com o pirotécnico como uma entidade única de tempo, sem necessidade da convencional sucessão cronológica.
Vida – morte.
A ambiguidade surge ao passo que o personagem/narrador descreve as incrédulas reações daqueles que o circundam. Ninguém concebe que “Zacarias vivo” e “Zacarias morto” sejam a mesma personagem. E Zacarias, como é que ele explica o fato?
“Em verdade morri, o que vem de encontro à versão dos que crêem na minha morte. Por outro lado, também não estou morto, pois faço tudo o que fazia e, devo dizer, com mais agrado do que anteriormente” (p. 26).
Percebemos como o próprio personagem/narrador concilia as possíveis oposições que levam a eliminar as ambiguidades decorrentes de sua situação, fazendo paradoxalmente da ambiguidade a estabilidade da narrativa. Assim, em um primeiro momento, o retorno do pirotécnico causa espanto a apenas um dos interlocutores, enquanto os outros assimilam a nova informação:
“Jorginho empalideceu, soltou um grito surdo, tombando desmaiado, enquanto os seus amigos, algo admirados por verem um cadáver falar, se dispunham a ouvir-me” (p. 30).
A partir desse momento, a inversão não é mais vista como tal, pois se instaura como equilíbrio permanente dentro do discurso, havendo uma contaminação total do elemento insólito no mundo sólito. Desta forma, o fantástico se define como um gênero onde o desequilíbrio acaba se convertendo dentro da narrativa, em fator constante, como uma regularidade própria do equilíbrio. Assim, Zacarias participa então do mundo dos vivos, com todas as prerrogativas dos mesmos, mas sem esquecer que pertence também ao universo dos mortos. Observa ele:
“(...) os rapazes ficaram indecisos, sem encontrar uma saída que atendesse, a contento, às minhas razões e o programa da noite, a exigir prosseguimento. Para tornar mais confusa a situação, sentiam a impossibilidade de dar rumo a um defunto que não perdera nenhum ds predicados geralmente atribuídos as vivos” (p.30).
Portanto, o conto “Pirotécnico Zacarias”, faz do verossímil uma vitória e uma fortaleza de sua escritura, e consegue atingir “o significado do fantástico literário que se encontra na sua própria existência”. O discurso fantástico se compara então com a função poética da linguagem, não apenas por pertencer ao universo da ficção, mas pelo caráter independente de sua realidade.
Na linguagem, ainda se destaca a figura da hipérbole, que é o procedimento configurador do fantástico, e é por meio dela que o absurdo se manifesta na obra “muriliana”, a partir da forma de expressão. Segundo os estudos de Roland Barthes em “L’ancienne, retorique/aide – memoire”, percebemos que a hipérbole se expressa sob dois aspectos: aquela que exagera por aumento, a “auxesis” (ex.: “... o corpo de barbara, que, de tão gordo, quinze homens dando as mãos, uns aos outros, não conseguiram abraçá-lo”) e a “Tapinosis”, que exagera por diminuição (ex.: “... vi que o seu corpo diminuíra espantosamente. Ficara reduzido a alguns centímetros de altura...”). Ambos os exemplos, adaptam-se a uma nomenclatura tipo hipérbole por dilatação e hipérbole por contração, respectivamente.
No entanto, a maioria dos contos de Murilo se apoia no primeiro caso, na “auxesis”, que se caracteriza por acréscimo quantitativo. Assim, no conto “Bárbara”, a exacerbação progressiva de uma vontade desenfreada cria um processo reiterativo e acumulativo: a cada novo pedido, um novo objeto é incorporado ao seu hiperbólico acervo (arvore de vinte metros de altura, o oceano, um navio, uma estrela), mimetizando concomitantemente no crescimento do seu corpo colossal. Esse sistema de adjunção é semelhante àquele que se processa no conto “O edifício”, onde a progressiva construção de andares revela-se limitada. A hipérbole não parece ter fim determinado, o que vem confirmar a proximidade da relação forma/conteúdo, ou seja, a hipérbole como forma de expressão que formaliza o conteúdo do conto, havendo um entrosamento entre o nível teórico e o seu correspondente semântico. “O discurso ficcional também se coaduna com o princípio de construção do edifício: O conto (...) permanece ironicamente aberto para um contar inacabável: enquanto o edifício ganhar altura” (SCHARTZ, 1981: 71), observa Davi Arrigucci, demonstrando a superposição do narrar o fato narrado.
As progressões nos contos de Murilo Rubião demonstram-se processos incontroláveis, que escapam à vontade dos sujeitos da ação. (O crítico, no mesmo estudo, comparou este processo ao mito do aprendiz de feiticeiro). É o exemplo do conto “Aglaia”, onde o casal, após evitar contatos sexuais e se esterilizar, continua gerando filhos, que “nasciam com seis, três, dois meses e ate vinte dias após a fecundação. Jamais vinham sozinhos, mas em ninhadas de quatro e cinco. Do tamanho de uma cobaia, cresciam com rapidez, logo atingindo o desenvolvimento dos meninos normais” (p. 193); ou no conto “Teleco, o coelhinho”, que antes da morte é vitima das irrefreáveis transformações que tomam conta do seu corpo. Podemos afirmar, então, que a acumulação acaba se tornando personagem central.
Este sistema de ampliação atinge não apenas as próprias personagens ou objetos circundantes, mas também classes cronológicas. Assim, o conto “A armadilha” cria o elemento fantástico no final, por meio de uma hipérbole temporal, que eleva para o infinito: “- Aqui ficaremos: um ano, dez, cem ou mil anos” (p. 157). A forma hiperbólica pode se apresentar invertida (tapinosis), como é o caso do conto “O homem do boné cinzento”, que relata o gradativo desaparecimento de Anatólio e Artur, porém o fantástico não se limita ao movimento físico regressivo, mas também se manifesta por descrições de caráter expressivamente surrealista:
“Assustei-me. Através do corpo do homenzinho viam-se objetos que estavam no interior da casa: jarra de flores, livros, misturado com intestinos e rins. O coração parecia estar dependurado na maçaneta da porta cerrada somente de um dos lados”. (p. 74-75).
A diminuição física, acarretando ao desaparecimento total, é tema central do conto “O bloqueio”, que relata a progressiva desmontagem de um prédio. O movimento redutivo é bidirecional: de cima para baixo e vice-e-versa:
“Pela tarde, a calma retomou ao edifício, encorajando Gérion a ir ao terraço para averiguar a extensão dos estragos. Encontrou-se a céu aberto. Quatro pavimentos haviam desaparecido, como se cortados meticulosamente, limadas as pontas dos vergalhões, serradas as vigas, trituradas as lajes. Tudo reduzido a fino pó amontoado nos cantos”. (p. 246).
E mais tarde:
“Oito andares abaixo, a escada terminou abruptamente. Um pé solto no espaço, retrocedeu transido de medo, caindo para atrás” (p. 249).
Esta imagem cumpriu a uma força centrípeta que tem o homem por alvo nuclear. Seu gesto final de auto-ensinamento é destacado na sentença que fecha o conto: “cerrou a porta com a chave” (p. 251), e os índices do discurso denunciam o aspecto fragmentário/metonímico do movimento regressivo: “tudo reduzido a pó amontoado nos cantos”, “apenas o pó amontoado nos cantos do lote”, “no ar pairou durante segundos uma poeira colorida”, “restos de sonhos”, “fragmentos de realidade”, “estilhaçava ao desintegrar-se”, etc. este processo da redução se apresenta diametralmente oposta ao movimento de expansão do conto “O edifício”; assim, dilatação/contração, montagem/desmontagem, força centrífuga/centrípeta definem-se como expressões hiperbólicas geradoras de uma linguagem fantástica nos contos “murilianos”.
Anteriormente, analisamos o processo de acréscimo ou diminuição por contiguidade, do qual a hipérbole funciona como figura-chave, desvendando os mecanismos fantásticos da narrativa, porem inclui também a repetição. Como o pleonasmo e a hipérbole, a repetição pode “engordar” o evento ou “aumentar” as coisas. A hipérbole, como figura-chave por excelência na linguagem “muriliana”, apoia-se na repetição para sua realização no discurso. Dessa forma, o numero de objetos mágicos inventados pelo ex-mágico mostra o aspecto reiterativo dos fatos que se repetem ate a saturação: “cobras, lagartos, coelhos, jacaré, sanfona, pombo de algibeira, urubu, cobra, pássaro, mãos que crescem novamente, leões, pára-quedas, revólver transformando-se em lápis”. O numero de transfigurações pelas quais passa Teleco é ainda maior, até as exaltantes metamorfoses que antecedem sua morte. Já no conto “Petúnia”, a repetição se destaca como um processo hiperbólico reiterativo, por meio do “enterrar” e “desenterrar” das Petúnias, cujo movimento circular em moto continuo faz com que a ação, desprevenida de conteúdo, se semantize penas por sua forma:
“Não dorme. Sabe que os seus dias serão consumidos em desenterrar as filhas, retocar o quadro, arrancar as flores. Traz o rosto constantemente alagado pelo suor, o corpo dolorido, os olhos vermelhos, queimando. O sono é quase invencível, mas prossegue” (p. 186).
Esta coerência da repetição alcança dimensões mais amplas no conto “A fila”, onde a personagem, em suas vãs tentativas de conversar com o gerente do local, volta a estar num lugar cada vez mais distante da fila, não conseguindo jamais atingindo os fins inicialmente propostos, porem nesse conto, o meio se torna o próprio fim, pois a repetição do processo lhe confere inusitada dimensão semântica: uma verdadeira forma do vazio. No entanto, neste processo, percebemos que há dois níveis de significação, onde o significante indicado para o infinito, acaba produzindo o significado retórico: “Esta repetição ‘infinita’ é inerente a um pensamento que gira em torno do campo transformacional do signo. Por outro lado, ela aponta, ela aponta ela aponta para o desequilíbrio do sistema simbólico entre o significante e o significado: o significado permanecendo o mesmo, o significante repete-se ao infinito, e graças a esta repetição, que é uma autogeração, ele gera um significado secundário, o ignificado retórico” (SCHWARTZ, 1981: 74).
No entanto, há acontecimentos em que a repetição não se diminui a um mero fazer redundante por parte das personagens. É o que se dá com os fatos narrativos, que nada mais são do que uma nova repetição de sua própria história. Exemplificamos “O pirotécnico Zacarias”, cujo pai, “Zacarias sênior, também tinha morrido”, porém, neste exemplo, a repetição se dá no plano da fabula, e não apenas da trama. Exemplo semelhante ocorre no conto “A noiva da casa azul”, onde o ódio se apresenta como elemento ancestral, genético, herdado dos pais:
“Sim, ao encontro de Dalila. De Dalila que, em menina, tinha o rosto sardento e era uma garota implicante, rusguenta. Não a tolerava e os nossos pais se odiavam. Questões de divisas dos terrenos e pequenos casos de animais que rompiam tapumes, para que maior fosse o ódio dos dois vizinhos”. (p. 53)
Portanto, as figuras possuem a função de criarem uma ruptura no sistema de expectativas do leitor na dimensão poética. Mas o que ocorre, quando os desvios da obra criam um sistema de redundâncias retoricas, como é no caso dos contos “murilianos”? Exatamente, a idéia de absurdo em Murilo Rubião, para a qual dirigem técnicas e temas narrativos, que é o resultado de um equilíbrio constante estabelecido por um desequilíbrio inicial, para qual leva ao “non sense”, numa destituição da significação, num esvaziamento de conteúdos. Se por um lado, a hipérbole é uma forma inicial de rompimento, por outro ela conduz, pelo próprio processo de redundância, à noção de ausência para a qual se direciona a estrutura da obra.

CONCLUSÃO

Nesse trabalho, verificamos que o gênero fantástico “muriliano” não possui um desfecho, pois ele sempre esteve aberto para possíveis transformações. Por isso, Murilo foi considerado um criador de um mundo à parte, pois ele tinha o habito de reescrever incessantemente seus textos, mesmo depois de publicados, sendo que ele mudava parágrafos e nome dos personagens, alterava títulos e ate mesmo o desfecho dos contos sempre buscando a perfeição inovadora na sua linguagem.
Dessa forma, o gênero de Murilo implica no desprendimento de uma realidade imediata como uma “fantasia” que incorpora o “estranho” no universo ficcional como também no universo do leitor que se torna “o objeto fantástico”. Então, nós, leitores, somos cumplices desse mundo fantástico, mais necessariamente, temos a sensação de estar dentro desse mundo criado e, ao mesmo tempo, nos vemos de fora dele numa situação de quem sonha acordado, com uma lucidez minuciosa que tende a objetivar a experiência que está vivendo e, na maioria dos casos narrando. Não se espantando, pois esse mundo nos encaminha para a familiaridade com o estranho, fazendo do mundo de fora uma extensão do de dentro e sugerindo uma continuidade efetiva entre o fantástico e o real.
No entanto, vivemos o abalo da estranheza, mas logo somos levados a nos sentir m casa ao lado do disparate. Por assim dizer, não estamos a salvo, temos a obrigação de estar dentro desse mundo, vendo-nos, entretanto, de fora. Mediante este procedimento, nos transformamos em participante de um mundo deslocado que paradoxalmente, é ainda o nosso.
Podemos dizer, quando Murilo elaborava seu gênero fantástico, o que causava espanto nele é a sua perfeita vivencia com o espantoso que implica num absurdo e um sarcasmo maltratante. Dessa forma, o fantástico “muriliano” denuncia o problema da loucura, do real e da razão; denuncia a angustia do homem alienado pelas forças dominantes, enfim, tudo se direciona para contradições recorrentes e mutuamente relacionadas, entre o estranho e banal, sonho e vigília, fantasia e rotina, fantástico e real, sendo que estes servirão de base para a construção do gênero fantástico “muriliano”.
Portanto, no gênero “muriliano”, não devemos esquecer a questão da linguagem, onde Murilo realiza um trabalho muito importante. Utiliza algumas figuras de linguagem como: metáforas, paradoxos, hipérboles e reiterações que desvendarão os mecanismos do fantástico na narrativa “muriliana”. Dessa forma, Murilo enriqueceu sua linguagem fantástica através dos mecanismos e procedimentos estéticos colocados ao material narrado, para que nós leitores, acreditássemos nos fatos narrados.

BIBLIOGRAFIA

ARRIGUCCI JR, Davi. Minas, Assombros e Anedotas (Os contos Fantásticos de Murilo Rubião). Enigma e Comentário. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 141-165.
GOULART, Audemaro Taranto. O conto fantástico de Murilo Rubião. Belo Horizonte/MG: Editora Lê, 1995, p. 158.
MORAES, Marcos Antonio de. Mário e o Pirotécnico Aprendiz. Belo Horizonte: Editora UFMG, São Paulo: IEB-USP, São Paulo: Editora Giordano, 1995, p. 248.
RUBIÃO, Murilo. Contos Reunidos. São Paulo: Editora Ática, 1999, p. 279.
SCHWARTZ, Jorge. Murilo Rubião: A poética do Uroboro. São Paulo: Editora Ática,1981, p. 54-82
TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. São Paulo: Editora Perspectiva, 1975, p. 191.





[1] Rubião, Murilo: “Contos Reunidos”, 1999, p. 143-144.

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